quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

3. Intercorrências da Comunicação - I

Foram muitos os meses que constituíram os meus tempos iniciais na blogosfera, meses em que esperava reacções de pessoas que, na sua maioria não tinham blogues. Da escola, havia algumas colegas que os haviam criado na mesma acção onde eu descobri o gozo desse mundo novo, para mim, mas poucas estavam motivadas para os alimentarem ou mesmo para visitarem os das amigas. Quem aparecia, por vezes, no Canto do Ego, mais com o intuito de me deixar beijinhos do que o de comentar, era a Sara, que, no blogue dela, gostava de postar fotografias das suas passeatas, mas espaçadamente no tempo. Para além dela, só a Rosa e a Judite se entusiasmaram ligeiramente com o acto de publicar, ambas em blogues relacionados com as temáticas por si lecionadas, mas por pouco tempo e sem sentirem falta de interação por não colherem apreciações de visitantes.
Pelo meu lado, cada vez mais sedenta de comunicação com a minha malta de Lisboa e de registo escrito das minhas opiniões sobre o que nos rodeia, o que somos e o que nos obrigam a ser, comecei a revelar-me crítica num suporte já mais utilizado por todos, o email.
Em 2007, vivia-se uma verdadeira paixão por emails em massa, com anedotas, pequenos vídeos, apresentações de powerpoint... A maior parte das pessoas não se dava sequer ao trabalho de formar opinião sobre aquilo que recebia, pelo que, porque estava na moda, tudo o que era recebido era encaminhado para outros. As caixas de correio electrónico estavam quase sempre cheias de mensagens que só faziam perder tempo, a maior parte delas carregadas de erros de português e muitas com a indicação final de que se não enviássemos aquela maravilha para dez, vinte, cinquenta pessoas, algo de muito mau nos aconteceria ou então, se o fizéssemos, algo de espantosamente bom nos seria oferecido. Para além disso, eu via os endereços de todos nós a ocuparem dez centímetros do espaço inicial do email, o que queria dizer que (quase) ninguém se preocupava em não revelar ao mundo o seu próprio endereço, uma vez que, ao encaminhar todos os que lhe chegavam (pois essa acção não exigia perda de mais tempo a limpar o excedente), se revelava conivente com uma realidade que facilitava a transmissão de vírus informáticos através de anexos de emails.
Ora, eu, com um espírito naturalmente atento e crítico, comecei por enviar um email pessoal a todos os meus contactos particulares, explicando como fazer para não divulgar entidades alheias, até porque muitas delas podiam preferir não ficar à mercê de qualquer cibernauta com gosto para a pirataria. Mas contam-se pelos dedos de uma mão aqueles que me responderam e começaram a eliminar os contactos que não deviam ser reenviados. E um belo dia, já mais do que farta de pretensas ameaças a pairarem sobre a minha cabeça, pois eu não reenviava quase nada, reagi a uma mensagem que me incitava ao reenvio "quer eu acreditasse quer não" no seu conteúdo. A primeira a conhecer deste modo a minha opinião sobre correntes de emails foi a Teresa, a quem enviei o seguinte:
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Olá, Teresa!
Por que razão hei-de reenviar uma "mensagem" quer acredite no seu conteúdo quer não?! "Correntes"?! Já no tempo em que nos deixavam este tipo de tretas na caixa do correio normal, muitas vezes manuscritas (o trabalho a que muita gente se dá!), eu simplesmente as 'enviava' para o LIXO!!!
Desculpa lá a sinceridade, Teresa. Eu penso no que faço. Não faço só porque sim nem porque me pedem - sem me explicarem a razão.
"Acredites ou não..."?!!! Então o que é que andamos a fazer neste mundo?! Vou transmitir aos outros algo em que não acredito?!...
Bem, não é para ficares chateada, obviamente (!), mas ficas a saber que este tipo de mensagem não é para mim! PONTO FINAL!
Beijos a todos
P.S. Importante:
1. Desculpa a dureza da linguagem. Acho que estás a "levar por tabela", depois de eu já ter recebido N destas porcarias!
2. Gosto imenso de receber emails. Não te inibas de me enviar outro tipo de coisas.
Guida
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Esta missiva constituiu resposta a um email que não pedia resposta (era apenas para reenviar...) e cujo título era 'Olho de Deus', o qual, supostamente, estava visível numa apresentação de Powerpoint. E o título que eu atribuí à resposta, que seria recebida pela minha amiga de sempre, com quem, oralmente, já trocara tantas palavras de nível abaixo do familiar..., foi: 'Olho de Deus, olho do cu, olho de quê'?!...
No mesmo dia, recebi a resposta da Teresa:
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Vou-me encher de paciência para te responder...
Sempre me questionei sobre a paciência que consegues arranjar para te abespinhares com coisas sem importância nenhuma... Eu, ao contrário de ti, nem sempre penso no que faço, quando o que está em causa é uma brincadeira inócua ou algo sem quaisquer consequências. Neste caso, a brincadeira é a saloiada da msgm (que posso sempre lembrar, se me acontecer algo de bom ainda hoje... - continuo à espera, mas ainda nada...)
bjs
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Fiquei apreensiva com esta resposta. No meu entender, eu tinha escrito como quem fala e sentia que, se tivesse 'dito' tudo o que escrevi, a reacção teria sido completamente diferente, para muito melhor. Pareceu-me haver ali um problema gerado pelas características da linguagem escrita. A falta da entoação, do acesso ao tom de voz, às expressões faciais teriam levado a Tânia a uma interpretação exagerada das minhas intenções, que nunca foram ferir nem assumir-me como detentora exclusiva de bom senso. E havia mais: ela afirmava que "SEMPRE se questionara...", o que me fez pensar por que razão NUNCA mo dissera, em tantos anos de convivência próxima.
Teriam os meus pais razão quando afirmavam que os meus amigos andavam atrás de mim porque eu tinha carro e dinheiro e tudo em estado impecável para lhes emprestar, quando eles já tinham perdido ou estragado os seus pertences?
Eu começava a fraquejar. Sempre me opusera veementemente a esta visão dos meus pais sobre as minhas amizades, visão que eu queria que estivesse distorcida ou errada. Queria e lutava contra ela, quer ripostando, quer tentando ignorar o que queriam incutir-me: que só eles, meus pais, gostavam de mim a sério e, por isso, só eles estariam comigo numa ocasião de aflição, o que esperavam que nunca acontecesse, por muitas razões, entre as quais o facto de não vir a desiludir-me.
Ora eu, que, já havia meio ano, também convidara a Teres a visitar o meu blogue e ainda dela não recebera visita, nem agradecimento pelo convite, nem explicação da razão pela qual não aparecia por lá, comecei a cozinhar com vários ingredientes, entre os quais o facto de ela ser a irmã muito chegada da Rute, que se opunha claramente à minha forma de escrever. Senti, sobretudo, que os amigos verdadeiros até podem descompor-se, num gesto inflamado de desacordo, mas é isso mesmo que atesta a amizade. Achei que se a Teresa SEMPRE estranhou a minha paciência para me "abespinhar" com o que pouco importa, então devia ter-mo dito há muitos anos, ou mesmo logo na primeira vez que o sentira.
Eu estava a vacilar em termos de segurança relativamente aos meus amigos. E não me parecia que fosse a distância física imposta por mim oito anos antes, quando mudara de residência com a minha família, a responsável por alguma diminuição de amizade. Não era, de facto, essa a realidade que eu via. Começava era a duvidar da verdade da amizade, desde o início. Eu até nem nunca tinha passado por nenhum "momento de aflição" que a testasse... Via-me confrontada com a enorme dificuldade em comunicar com aquelas duas irmãs que considerei as minhas grandes amigas, desde a adolescência, e comecei a ser assaltada, aos quarenta e três anos, pelas vozes que os meus progenitores me tinham habituado a ouvir desde o tempo do liceu. E perante esta adversidade, tentei conversar, não com os meus pais, mas com elas.

3 comentários:

Pedro disse...

Como em todas as novelas, também esta começa a ter as suas intrigas e desavenças. Será que lá mais pró fim os "maus" morrem e são presos e os "bons" casam-se uns com os outros? Aguardemos!

Guida Palhota disse...

Pedro:
No que já se lê, não encontro maus nem bons. Mais tarde se verá. Mas, como esta é uma "novela" da vida real, pode ser que não haja crimes nem prisões nem casamentos feitos à medida do gosto de quem lê, ou seja, carregados de peripécias potencialmente impossibilitadoras da união dos intervenientes, as quais acabam por se resolver à beira do fim da escrita, quase milagrosamente e de um momento para o outro...

Um beijo para ti, ó cônjuge!

Paula disse...

Hum...pois eu acho que, tal como nas novelas, lá para o final tudo se vai esclarecer...e se houver um casório tanto melhor!!!